Carta aberta ao prefeito eleito de São Paulo


Vivo e moro em São Paulo. Sou um munícipe. Segundo o dicionário Michaelis
da Língua Portuguesa, munícipe é a pessoa que goza dos direitos do município.
Moro e exerço minhas atividades em São Paulo. Sou um cidadão. Cidadão é: 1.
habitante de uma cidade; 2. indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de
um Estado (ainda segundo o Michaelis).
Mas sou mesmo? Bem, tenho deveres: pago impostos, taxas, contribuições
e tarifas exigidas pelo governo municipal. Cumpro a lei e zelo pelo patrimônio
público, do qual usufruo. Faço exatamente o que deve fazer todo cidadão. Mas
também tenho direitos. Alguns desses garantidos pela Constituição. Por exemplo,
o direito de ir e vir. Mas como exercer esse direito básico se a cidade não tem
acessibilidade urbanística? Nossas calçadas não são planas; pelo contrário, são
repletas de degraus, buracos, desníveis e obstáculos aéreos que dificultam o livre
trânsito de quem delas precisa.
As calçadas deveriam ter três faixas: a de serviços, próxima à guia, onde
deveriam ficar postes, orelhões, lixeiras, etc.; a central, para o fluxo dos pedestres;
e uma rente aos imóveis, de uso dos moradores. No entanto, visando quase que
exclusivamente o fluxo de veículos, as calçadas foram ficando cada vez mais
estreitas. Rebaixamentos próximos às faixas de travessia são poucos e os que têm
piso podotátil quase inexistem. Não é difícil encontrar prédios e equipamentos
públicos sem rampas, elevadores e até sem banheiros para deficientes. Ou centros
de atendimento público sem intérprete da língua brasileira de sinais. Nem hospitais
e escolas escapam da falta de acessibilidade. Assim, a cidade que deveria ser para
todos não atende às necessidades básicas de sua população mais necessitada.
Idosos, crianças, deficientes, obesos e qualquer outro perfil que esteja fora do
padrão de normalidade idealizado e estabelecido por tecnocratas e, infelizmente,
validado pela maioria dos legisladores e pelo prefeito, sentem usurpados os seus
direitos de cidadãos. Então, neste período de transição, cabe perguntar ao ilustríssimo
prefeito eleito de São Paulo: “O senhor vai atender as nossas reivindicações?”

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