Audiodescrição - Transformando Imagens Em Palavras

Audiodescrição - poucas e precisas palavras

"A arte deve antes de tudo e em primeiro lugar embelezar a vida."
Friedrich Nietzsche

Altura, largura e profundidade. Quanta coisa pode haver no espaço tridimensional de um palco de teatro. Não se trata apenas de verbalização por atrizes e atores de textos de renomados dramaturgos como Gil Vicente, Bertold Brecht, Sófocles ou Shakespeare. É muito mais. É a interação com o cenário, é o nosso imaginário convidado pelos figurinos a se transportar para a época ou o local da trama. São emoções derramadas a nossa frente, mas não apenas por palavras, também no gesto contido, expansivo ou abrupto. Na expressão facial, no semblante. E eu, que de teatro gosto e teatro fiz, embora não mais pudesse ver uma cena, contentava-me em ouvi-la. Sim, ouvir as emoções, ouvir os movimentos. Mas algo sempre me faltava para um pleno entendimento. O público reagia, se manifestava, e eu, em pensamento, perguntava: o que terá acontecido? Uma piada gestual? Uma entrada sorrateira?



Para exemplificar, pense na paisagem mais bela vista por você ao vivo e a cores. Agora imagine essa mesma paisagem estampada em uma foto. Por mais fidedigna que a imagem seja, não é a mesma coisa. Falta uma dimensão.
Pois é, fui convidado um dia a assistir a uma peça teatral com audiodescrição. Chegando, surpresa! Além de receber em braille a ficha técnica com sinopse, tive a oportunidade de subir ao palco para conhecer o cenário. Isto foi excelente, pois durante a peça, eu não imaginava apenas atores se movimentando num espaço vazio com um fundo branco. Agora, havia cores, havia objetos. E isto já faz grande diferença. Graças à descrição detalhada dos personagens feita ainda antes da peça, as vozes tinham formas mais definidas. Eram gordas outras magras, sorridentes, sisudas, calvas, cabeludas, simples e ornamentadas. Mas o melhor ainda estava por vir. Conforme se desenvolvia a trama, passei a ver os personagens ora pegando um objeto, ora sorrindo para o outro. Se agachando, se levantando, ou seja, passei a ver os movimentos em cena... Não! Não por um milagre, mas pelo trabalho perito dos audiodescritores.
Como disse Thomas Jefferson: "O mais valioso de todos os talentos é aquele de nunca usa duas palavras quando uma basta". E assim, de forma talentosa, com poucas palavras, mas precisas, os audiodescritores me faziam ver o que eu não podia e ouvir o que não estava sendo dito verbalmente mas pela linguagem gestual, pela expressão corporal, pela emoção estampada no rosto dos atores. E eu ia curtindo cada momento. Evidentemente nem tudo que acontece em cena pode ser descrito em tempo real, senão atrapalha, sobrepõe a fala dos personagens. Mas como o verdadeiro artista sempre simplifica, e para mim a audiodescrição é uma arte, de forma simples e direta eles faziam chegar aos meus fones de ouvido o essencial para compor o meu entendimento. Foi show.
Depois dessa experiência inicial, fiz questão de assistir a outras peças, filmes e à primeira ópera com audiodescrição no Brasil. Eu, particularmente, sou assíduo frequentador de eventos culturais mas, agora com audiodescrição, as coisas mudaram. Eu aproveito mais o que me é oferecido, compreendo com mais facilidade sem ter que fazer perguntas a quem está comigo. Enfim, tem sido mais prazeroso assistir a tais eventos. Meu desejo é que se multipliquem, se espalhem, que se consolide por aqui esta ideia.


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