Recursos Hídricos

A água é um bem comum, é de todos nós. Mas nem todos têm podido usufruir desse bem. A escassez de água vem causando preocupação no mundo inteiro.

Mas como pode algo tão abundante no planeta estar em carência? A má administração dos recursos hídricos é a raiz do problema. Falta gestão, sobra poluição e desperdício. Exemplificando, esgoto doméstico e dejetos industriais têm sido despejados sem dó em córregos e rios. Para que gastar com saneamento se a água leva tudo embora? Esse raciocínio equivocado provoca a poluição generalizada de córregos, rios, lagos, lagoas e baías. Até as praias sofrem com a poluição. Agora, estamos pagando o preço da falta de visão dos governantes.

A água potável tem se tornado escassa. Despoluir leva tempo e custa caro. Conforme informa o Ministério das Cidades (criado, em 2003, por Luiz Inácio Lula da Silva), nos anos de 2007 e 2008, mais de R$ 4 bilhões foram destinados para o saneamento básico em São Paulo. Ou seja, água boa tem preço. Por isso, a água passa a ser vista como um bem econômico. E, como tal, administrá-la bem é fundamental.

Em São Paulo, as ETEs [Estações de Tratamento de Efluentes], segundo o governo, têm a capacidade de tratar 100% do esgoto gerado na cidade, mas falta tubulação que capte do gerador e encaminhe até as Estações. As consequências dessa administração mal planejada são visíveis nos rios Tietê, Tamanduateí e Pinheiros que, aliás, tem 80% do seu volume composto de esgoto.

Para que tais rios sejam despoluídos, muitos recursos serão gastos, mas esta é uma meta possível de ser alcançada. Por exemplo, o rio Han, que corta Seul (capital da Coréia do Sul), era puro esgoto, ou seja, um rio considerado de classe 4, tão sujo que dificilmente poderia ser recuperado. Mas o governo coreano decidiu despoluí-lo e ele agora corre com água limpa e inodora, classes 1 e 2. Hoje, o Han, um exemplo de revitalização bem sucedida, é usado para o transporte e como área de lazer, com 12 parques às suas margens. Ele é a única fonte de abastecimento dos 10,3 milhões de moradores da capital coreana. Para garantir a qualidade da água, é proibida a instalação, ao longo do seu percurso, de fábricas que possam poluí-lo. Os 40 córregos que deságuam no Han têm a água monitorada constantemente, em estações de saneamento.

Lá, a gestão dos recursos hídricos tem dado certo. Aqui também pode dar. Eu, que já pesquei no Tietê, no município de Ibitinga, espero poder fazer isso em breve, em plena marginal.

Mas o desperdício, como combatê-lo? Até recentemente, nem os agricultores nem os industriais pagavam pela água consumida, pagavam apenas pelo serviço de distribuição. Água de graça, desperdício na certa. Por isso alguns governos passaram a adotar a precificação, ou seja, a cobrança pelos recursos hídricos consumidos, revertendo o dinheiro para a cobertura dos custos de tratamento da água e preservação das áreas de mananciais. Nesse modelo, o pagamento é feito pela água consumida e pela licença para jogar os resíduos nos rios. Assim, o agricultor e o empresário são incentivados a gastar com parcimônia e a fazer o tratamento da água antes de devolvê-la à natureza. Essa política mostrou-se eficaz na França e na Alemanha.

No Brasil, a Agência Nacional de Águas (ANA) iniciou um projeto-piloto de cobrança da água no rio Paraíba do Sul (estado de São Paulo). No primeiro ano da cobrança foram arrecadados cerca de R$ 6 milhões, reinvestidos em estações de tratamento em doze cidades da região. Talvez você pense: “isso vai encarecer os produtos e, no fim, nós vamos pagar a conta”. Na verdade, hoje, já pagamos pelo que não consumimos. Afinal, a água subsidiada para a indústria e as barragens construídas para propiciar a irrigação são pagas com os impostos arrecadados de cada um dos brasileiros.

Outro grave problema relacionado à escassez de água é a falta de alimento. Segundo Paul Roberts, escritor do livro The end of food (O fim da comida, 2008), não existe água boa suficiente no mundo para atender ao aumento projetado na demanda de alimentos. Roberts chama a atenção para as medidas tomadas por alguns países. A China, por exemplo, tem substituído a produção de grãos, que necessita de irrigação maciça, pela de verduras e frutas, que consome menos água. Em 2007, importou 30 milhões de toneladas de soja, boa parte vinda do Brasil. Isso significa que a China está importando, por tabela, água brasileira. Isso é conhecido como mercado virtual de água, ou água virtual, termo que designa a água "escondida" nos produtos, ou seja, a água que foi utilizada na produção e transporte dos produtos.

Enfim, a água está na base de todas as cadeias produtivas e, como mostra a história, o ser humano administra melhor aquilo que é tratado como bem econômico. A água, sem dúvida, merece tal tratamento. Portanto, cada um faça a sua parte, evitando o desperdício e exigindo uma administração eficiente desse valioso líquido.

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