Acordo Ortográfico

O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que passa a vigorar no Brasil em janeiro deste ano (2009), tem prazo para ser incorporado até 31 de dezembro de 2012. Assinado em Lisboa (Portugal), no ano de 1990, por Angola, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, Brasil e, posteriormente, Timor Leste, seu objetivo é instituir uma ortografia oficial única da língua portuguesa, dando fim à existência de duas normas ortográficas oficiais divergentes, uma no Brasil e a outra nos restantes países lusófonos.

O português é a terceira língua oficial ocidental e européia mais falada no mundo – por cerca de 330 milhões de pessoas, espalhadas por cinco continentes.

O Acordo acarreta alterações na grafia de cerca de 1,6% do total de palavras na norma euro-afro-asiático-oceânica – de Portugal , dos Países de Língua Oficial Portuguesa (Palop), do Timor Leste e da Região Administrativa Especial de Macau –, e de cerca de 0,5% na brasileira .

Como é meramente ortográfico, isto é, restringe-se à língua escrita, não afeta nenhum aspecto da falada e muito menos do significado das palavras. Quanto a este item, veja como são distintos alguns termos, esteja o falante em Portugal ou no Brasil.



Em Portugal

O telemóvel tocou na hora programada. Ele disse consigo: “Levanta-te, Manuel. Vestiu o fato que Marisa lhe tinha separado para o dia. Aqueceu a sopa de legumes para o pequeno-almoço, comendo-a acompanhada de alguns pãezinhos.

Começou a enumerar para a mulher-a-dias as tarefas a fazer: lavar a casa de banho, com especial atenção à sanita , pois o autoclismo estava perro, e o uniforme dos miúdos.

Observou, pela janela, no estendal, as cuecas de Marisa sem molas. Pensou em recolhê-las, mas, devido ao avançado da hora, decidiu deixar isso para a mulher-a-dias que, aliás, era muito eficiente. Lembrou-se do dia em que ela fôra lá para ser entrevistada. Uma mulher já idosa, alta, magra. Os seus modos, as suas roupas e a sua voz não deixavam dúvida, era fufa . Quando ela se foi embora, Manuel tentou opor-se à sua contratação, mas Marisa contra-argumentou dizendo que ela tinha sido hospedeira e que certamente faria bem o seu trabalho. Mas o que o fez parar de se opor foi o facto de Marisa lhe chamar engatatão , dizendo que se fosse um borrachinho de olhos claros ele certamente não faria objeção.

Realmente não faria. Concordava que Marisa precisava de alguém que a ajudasse em casa, pois o seu trabalho como dobradora de filmes franceses já ocupava boa parte do seu tempo e, agora, como explicadora para aquela miudagem da vila, menos tempo lhe sobrava.

Viu no ecrã do computador que tempo era algo que ele não tinha e saiu apressado. Frente à casa, os almeidas limpavam a calçada. Pensou: “afinal os impostos servem para alguma coisa”.

Quando chegou na paragem do autocarro, reparou que havia pouca bicha e ainda tinha uns minutos. Atravessou a rua e entrou na farmácia em frente para comprar, a pedido de Marisa, pensos higiénicos . Tomou a injecção recomendada pelo médico, pagou a conta e saiu.

Olhando para o outro lado da rua, viu que o seu autocarro estava a arrancar. Depois de praguejar, pensou: “se houvesse nesta cidade mais comboios, as coisas seriam mais fáceis. Ai que saudades de Lisboa!



No Brasil

O celular tocou na hora programada. Ele disse a si mesmo: “Levanta Manuel”. Vestiu o terno que Marisa lhe havia separado para o dia. Esquentou a sopa de legumes para o desjejum, tomando-a na companhia de alguns pãezinhos.

Começou a relacionar para a diarista as tarefas para o dia: lavar o banheiro, dando atenção especial à privada, pois a descarga estava emperrada, e o uniforme das crianças.

Observou pela janela, no varal, as calcinhas de Marisa sem prendedores. Pensou em recolhê-las, mas, devido o avançado das horas, decidiu deixar isso para a diarista que, aliás, era muito eficiente. Lembrou-se do dia em que ela viera a fim de ser entrevistada. Uma mulher já idosa, alta, magra. Seu jeito, seus trajes e sua voz não deixavam dúvidas, era sapatão. Quando ela se foi, tentou opor-se à sua contratação, mas Marisa contra-argumentou dizendo que ela havia sido aeromoça e que certamente faria bem o seu trabalho. Mas o que lhe fez parar de se opor foi o fato de Marisa lhe chamar de mulherengo, dizendo que se fosse uma moça bonitinha de olhos claros, ele certamente não faria objeção.

Realmente não faria. Concordava que Marisa precisava de alguém que lhe ajudasse em casa, pois o seu trabalho como dubladora de filmes franceses já ocupava boa parte de seu tempo, e, agora, como professora particular para aquela criançada da vila, menos tempo lhe sobrava.

Viu na tela do computador que tempo era algo que ele não tinha e saiu apressado para a rua. Em frente de casa, os garis limpavam a calçada. Pensou: “Afinal os impostos servem para alguma coisa”.

Quando chegou ao ponto de ônibus, observou que havia pouca fila e ainda tinha uns minutos. Atravessou a rua e entrou na farmácia em frente para comprar, a pedido de Marisa, absorventes. Tomou a injeção recomendada pelo médico, pagou a conta e saiu.

Olhando para o outro lado da rua, viu que o seu ônibus estava partindo. Depois de praguejar, pensou: “Se houvesse nesta cidade mais trens as coisas seriam mais fáceis. Não haveria tanto trânsito e os horários seriam cumpridos. Ai que saudades de Lisboa!”

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